Monday, December 12, 2011

Palavras de Cotrim

Artwork: Les Miserables (Starjammers, 2011, Série "Hei-de encontrar o real")



Habitus.


Queremos, quando crianças, subir árvores, colocando interrogações para as quais as respostas se apresentam sempre insuficientes, especialmente contidas. As flores acontecem, impossíveis de determinar. As primeiras socializações trabalham desde cedo sobre a ideia de verticalidade, fazendo desta sujeito de um só predicado,
a expansão infinita da epiderme, subir a árvores representa a necessidade de elevação incontida das possibilidades iniciais. É imperioso crescer. Para tal efeito, aprende-se o mundo por justaposição, a acumulação acrítica, politeísta de estímulos - o que é isto o que é isto, porquê porquê porquê. Sujeitos à fisiologia ainda digna, devemos rir, na apresentação faseada do repertório básico de emoções, articular, representar o concreto, interagir, antecipar, mesmo antes que o mais optimista isso espere.

A vida transforma-se, entretanto, sendo-lhe removidas as pausas. Os dias passam sem vitórias a assinalar.
A integração social posterior, secundária, subsidiária, tende a regular a libido da pertença - sede de conflitos especiosos -, um movimento monoteísta que informa a dedicação particular a uma arte, a um credo, uma maturação especializada do que é doravante concreto possível, ocupando-se o organismo investido da necessidade de coabitação civilizada com a sombra da finitude, e do que continuará, sem mácula, sem nós.

Trata-se de uma relação rasa com o solo, com o lado orgânico do existente; na adaptação tardia, devemos, postos em conjunto, experimentar linguagens, traduções da ambiguidade e da incoerência, uma gramática nova, decantada pelo aprendizado, e sim, pela responsabilidade. Aprende-se por narração, o expressivo o figurativo, a necessidade de mudar amiúde de medida, procurando-se adiar a redundância, o sentido de se ser obsoleto, na análise minuciosa dos protocolos que regem a realidade.

Por fim, tudo parece relativo, temos, quase-afluentes, ainda alguma resistência à surpresa, as flores acontecidas, o gosto particular por andar de chinelos.

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