Janela.
Se uma janela se abrir
é por certo da ventania,
e não
da oportunidade
da vertigem,
um vocabulário de vírgulas,
uma obra útil
descendente
de estruturas corticais,
costeiras,
que entende a realidade
através de sintomas e mistérios,
o telúrico
universo do meio,
itinerante
subúrbio,
longínqua e pródiga a beleza do Cartaxo,
exauridos estão os que nele deliberam,
num alento capaz
feito de vinho maduro
e reverência à verdade
ser profeta
ser poeta,
com vagar,
folhos e gravidade,
tudo é uno
na ausência de um
terceiro termo
no enfrentar das circunstâncias,
as emoções são,
por vezes,
uma velha razão,
assim se deglute Descartes,
numa prosa rente à terra,
os meios de expressão
reduzidos ao indispensável
afirmando nunca
se ser neste mundo,
lêdo e mudo,
fora o resto
que se senta à mesa dos mortais
o valor do céu
- como a infância -
é um sobre-valor,
esperanto
que acalenta comentários,
casos sucedidos
que estanciam
em lugares de advérbio
um céu pleno,
resiliente e conforme,
Medeia que não se rende,
refúgio das regras
e do escrúpulo
que preside
à escolha de vocabulário
na presunção de relevância,
falar alto
e sonante,
falar de constância,
um circunlóquio
que devassa
a expectativa,
insondável
equinócio
de enaltecer,
circunstância
de
argumento eréctil
saber do aumento de impostos,
rústico hábito de manter privilégios,
politizando o privado,
somar e sumir,
devemos atentar
a
modos de governação
do projecto colectivo
a subjectividade por vir
os sonhos,
continente das ultracoisas,
além da compreensão imediata,
há sempre pombas
na plataforma,
em mim,
uma
ocupação prática e discreta
num momento histórico
que menospreza
a especificidade.
Apuramos um golpe,
absortos,
e no cárcere de um sussurro,
fechamos a janela,
outrora aberta,
agora resignada.
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