Friday, November 24, 2006

Self-disclosure

Se há coisa com que perdemos precioso tempo, convertendo-o, a maior parte das vezes, em infrutífero (mas, ainda assim, apetecível) investimento, é a observação.
Gostamos, simplesmente, de observar os rituais individuais que higienizam e mistificam a vida quotidiana. Contudo, devemos referir que vemos cada vez menos e pior.
Há cada vez menos lugares pessoais de interesse, a nosso ver. A pasteurização dos hábitos e dos estilos de vida explica grande parte deste efeito.
Ainda assim, num cenário deprimido para quem se propõe observar, há condutas que detém algum potencial de galvanização da cloaca e demais vísceras.

Destas, deixamos dois exemplos:
O hábito, pelo que observamos em diversos locais de usufruto colectivo de temperos, sopas e outras quimeras gastronómicas, das pessoas fazerem repousar os seus telemóveis sobre as mesas destinadas ao convívio e à fruição do repasto, deixando-os, reluzentes, bem à vista de todos os transeuntes. Trata-se, obviamente, de gente relevantíssima que precisa de ser contactada a qualquer instante. Ou, pelo menos, aparenta apreciar que tal acontecesse.
Outra conduta que muito nos apraz contemplar, diz respeito a todos aqueles que, munidos de jaquetas, camisas de folhos e gravatas regimentais, participam amiúde em iniciativas de comunicação, divulgação ou formação. Apresentam-se com um pequeno bloco de notas (formato A5, no máximo) no qual rabiscam meia dúzia de vocábulos, quase sempre a contra-gosto. O fastio deriva, certamente, de se tratar de gente muito culta e informada, que detém um grande acervo de conhecimento em suas circunvoluções neuronais, cuja incompletude é prontamente colmatada com a manuscrição daquele punhado de conceitos. São estes os arautos das novas economias baseadas no conhecimento, e nos fundos estruturais dos compadres da União Europeia.

Continua, portanto, a valer a pena, efectuar um esforço de observação no tempo que hoje se consome.

1 comment:

Anonymous said...

...importante se torna observar primeiro ou com a mesma
intensidade o que nos está mais proximo,isto é ,logo ali ao sair do quarto,onde não há blocos,gravatas ,telemoveis....então que farão as pessoas aí....!!!
Esse mundo na rua complementa os seus sonhos... com esses gestos futeis ,inuteis mas que lhes confortam o ego.DIGO EU .rm