Wednesday, July 19, 2006

It`s a outlier!

Gonçalo Cadilhe situa-se na exígua galeria dos escritores-viajantes.
É um digno aspirante a Bruce Chatwin português.

Na badana do seu Planisfério Pessoal (Oficina do Livro), apresenta-nos a sua perspectiva da (sua) produção literária:

Ao longo de uma deliciosa carreira que não o levou ainda a lado nenhum, para sua grande felicidade, excepto aos lugares mais remotos do planeta, continua a guiar a sua actividade literária pelo princípio sagrado de escrever para comer”.

Há que ler, pois, algumas badanas. Trata-se de papel excedentário onde o autor deposita, por vezes, informação deveras relevante – contudo, o que se observa na generalidade das badanas, cinge-se a previsíveis e verborreicos afagos do ego.
Inspirado pela escalada ao cume do monte Chacaltaya (Bolívia), a 5400 metros de altitude, Gonçalo Cadilhe lega-nos prosa expressiva sobre o sentido da noção “Qualidade de vida”:

Qualidade de vida não é o todo-terreno para o engarrafamento matinal cinco dias por semana, nem poupar no preço daquilo que se come, para se gastar naquilo que se mostra. Qualidade de vida não são os quatros apelidos e três nomes próprios do filho varão, nem a lista de espera de dois anos para a creche, nem o T1 de luxo entrincheirado no horror paisagístico que caracteriza a periferia portuguesa em geral. Qualidade de vida não é a música que bate na cabeça no sábado à noite, a amena cavaqueira com o copinho de uísque na mão, o livro que não se lê, a decisão que não se toma.
Qualidade de vida é ter um sonho e viver por ele, é fazer como o alpinista João Garcia, que é português, mas de uma raça antiga, que se vai diluindo sem apelo nem antídoto nas compras de um domingo à tarde
”.

No contexto do universo social de hoje, homologado e ultra-pasteurizado, Gonçalo Cadilhe faz-nos sentir melhor.

3 comments:

Anonymous said...

Lili;:)

Anonymous said...

Um protótipo de profissional, na profissão impossível, capaz de aliar a dor do trabalho com o prazer do lazer, sem os imiscuir… (ou então não).

Anonymous said...

Peguei no menino e dei-lhe colinho.Embalei-o trauteando Zeca Afonso..."o meu menino é de oiro,é de oiro fino..." afaguei-o e calmanente o menino ,o meu menino adormeceu...,e sonhou e os seus sonhos eram verdes e vermelhos,eu sei porque ele sorria como se fosse já muuuuuuuiiito feliz e estivessemos no Natal...o meu menino...rm