Wednesday, July 19, 2006

Palavras de Cotrim

O intelectual.

Luís Fernandes, cronista portuense e um dos pioneiros da Banalogia portuguesa, fala-nos amiúde de um género social, várias vezes enunciado no espaço da palavra pública, mas nunca convenientemente escrutinado no seu conteúdo: o intelectual.
No contexto da sua Escrita Perecível (Edições Afrontamento, p. 52), vem preencher, em definitivo, a lacuna analítica até agora existente, apresentando-nos um intrincado gradiente da conduta intelectual:

O pequeno intelectual rebola-se no grande intelectual, tinge-se com as tintas com que este pinta o mundo – enseba-se nele. Devora-o e come-o, roendo-lhe os livros e os artigos. Serve-o, já deglutido, em pequenas postas na conversa erudita, com o que consegue criar admiração no intelectual mais pequeno do que ele – o pequeníssimo. Caracteriza o pequeníssimo intelectual o facto de passar a admirar o pequeno, que lhe serviu a refeição regurgitada, em vez de dirigir o seu ímpeto conhecedor ao grande intelectual, que é a fonte e não o empregado de mesa.
Prosseguindo, falaria agora do intelectual muitíssimo pequeníssimo, que só aspira a que o convidem para tertúlias dirigidas pelo pequeno intelectual. O pretexto da tertúlia, esse, já sabemos – é o grande intelectual.
Foi por isso que Sócrates bebeu cicuta e outro grego, cujo nome não recordo mas hei-de perguntar a um intelectual, vazou os olhos, e outro ainda foi viver para dentro de uma pipa
”.

1 comment:

Anonymous said...

Fucken Johny...
Sim senhor... a estadia na Alemanha parece que te está a fazer bem... e a permitir fazer algo que tanto gostas, e que fazes cada vez melhor... "schreiben"
"Ein Tag bist du berühmt, und ich bin auf dich stolz"

Desculpa o meu alemão, mas aprendi mesmo agora...

Um grande abraço,
Pedro Fonseca