Economia baseada no conhecimento.
Em tempo de canícula, gosto particularmente de apreciar as “gordas”.
Ou melhor, em tempo de severa canícula, o que gosto mesmo é de devorar as “gordas”.
As “gordas” são o melhor que os jornais têm para oferecer ao leitor mediano.
Sumarizam, aliviando por breve instante a sensação de ignorância.
Possuem uma vantagem adicional: podem ser lidas a vários metros de distância. De um autocarro em movimento, por exemplo.
Em Lisboa, sinto-me privilegiado – os autocarros que utilizo apresentam-me sempre as “gordas” frescas. Daquele mesmo dia.
Numa das últimas “gordas” por mim devoradas, enalteciam-se modelos de organização económica fomentados pelo conhecimento.
Conceito redondo e pós-fordista. Lê-se bem, portanto, de um autocarro em movimento.
Honestamente, não percebo o alvoroço em torno da formulação.
Conheço-a desde que conheço a minha avó.
A minha avó, analfabeta por ausência de opção, sempre teve grave dificuldade na orientação pelas novidades dos arrumos da mercearia da paróquia.
Tal disposição nunca a impediu de saciar o apetite voraz de meu avô.
Sempre sustentou o lar, adquirindo o que conhecia.
(Nota: Gostava que o Menino Jesus nascesse este ano mais cedo, para poder comer do arroz doce que a minha avó prepara, em celebração da efeméride – se fosse possível, propunha Setembro: a cabra da minha avó dá mais leite nesse mês)
4 comments:
Um doce...,e de lágrima no olho,
luto com as palavras dentro da minha cabeça, e não consigo articular uma frase...queira Deus que o Natal chegue mais cedo...e juro que este ano tambem vou comer arroz doce da avó...um doce....Obrigado rm
Julgo que o ex-velocipedista “Goethe”, intelectual multifacetado (nas horas de lazer) deixou para o amanhã: “ Só sabemos com exactidão quando sabemos pouco; à medida que vamos adquirindo conhecimentos, instala-se a dúvida”.
Contigo e com muitos digo… gosto mesmo é das gordas… daquelas que não dão trabalho a procurar e tragar (com a vista). Elas próprias, como que possuídas por uma vontade lasciva se abeiram despudoradas de quem por elas passa. Insaciáveis. Oferecem-se e são usadas repetidamente, ali mesmo. Sabem-no bem, o tempo escasseia. Amanhã, naquele mesmo espaço, o tempo é de outra, jovem. Aparentemente fresca, mas igual e gulosamente oferecida….
As magras resguardam-se, fazem-se caras e caras são para quem as quiser conhecer, ver melhor e perceber. Comer as gordas. É tão bom ficar só com as gordas e (pensar) saber com exactidão.
Mas comer só as gordas é pouco,ainda que gostoso.Fica-se com a sensação de barriga cheia,mas não passa disso. Blá..blá ..blá....Já lá vai o tempo que gordura era formosura ,agora depois de comer as gordas devem digerir-se as magras,para equilibrar,não vá o balão rebentar de oco.Tambem eu vou tentar fazer um pouco de dieta ... quem sabe começando pelo Actual...obrigado rm
O equilíbrio. Confesso. Propósito difícil de alcançar na vida. Equilíbrio elementar, como aquele que se alcança na fusão do leite magro da cabra com o doce no arroz, que o vai denominar. Elementar, o equilíbrio, nas rugas das mãos de quem conhece.
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