Ninho.
Aos quinze anos conseguiu sair de casa sem que ninguém se apercebesse. Aproximou-se da rua mas acabou por cair num ribeiro. A noite parecia demorar-se já depois do sol nascido. A água arrastou-o na direcção de um túnel imenso escuro. Pensou que poderia ser aquele o sítio de onde se veria melhor o mundo. Espreitou pela fenda primordial, no seu interior nascia relva, e nesse instante pareceu-lhe que a mãe gritava ao longe que não entrasse, que as coisas não são o que parecem, que podia perder o pé, o escuro era longe, remoto em demasia para a maioria das pessoas.
Ainda hoje se lembra de tudo de forma clara, a escuridão, a face que cai sempre que se toma uma decisão, saber que uma coisa exclui outra, a vertigem própria de ser homem trajando vestidos curtos próprios de uma segunda-feira, assumir resoluto um ponto de vista como quem sabe tudo sobre as palavras.
Nesse dia foi, como sempre, a pé para a escola. Trazia uma mochila às costas, quando se apercebeu que teria dificuldade em sair de casa dos pais.
No comments:
Post a Comment