Tuesday, August 28, 2018

Self-disclosure.

Um grande desígnio (CXXIX).



(na semana passada, passámos quatro dias de férias num segredo esquecido nos baixios do farol da murtinheira. ficámos mais perto do que, no quotidiano, mais deveria interessar: os caminhos, o alto do monte, o parque, a baixa-mar. nestes dias, andámos a pé, comemos batatas, vimos advogados de férias. experimentámos três vezes o entusiasmo na piscina municipal. na praia, vimos de perto o arregaçar da corrente nos seixos. ao segundo dia, os olhos estavam já calados na meia bruma do farol novo. comemos sopa de noite, junto às pinhas. ouvimos falar de problemas de terrenos, de heranças, em francês. ao terceiro dia, fomos duas vezes à piscina, mesmo com frio, quinze, dezasseis graus: "vês pai, já não estou a bater os dentes". num café perto, pediste a ementa, e depois um garfo, depois de a tentares ler. num destes dias, a diana casou-se num lugar ao lado, e tu perguntaste porquê. ainda pedes que te explique o que as pessoas dizem, o que querem, porque se riem. perceber o moto dos fervores não é tarefa simples, digo-te. o avô velho, por exemplo, entusiasmava-se quando falava da capacidade da pipa. se vista de perto, a fortuna pessoal conhece diferentes ousadias, ritos de extravagância aparentemente simples: ir dar tiros, pintar as unhas, queimar foguetes, pagar com notas de cem euros, tomar banho de água quente. vou-te explicando, ainda assim, o que posso, mesmo quando as neves chegam, mesmo quando imagino pouco o que me ocorre como explicação).

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