Wednesday, January 24, 2018

Self-disclosure.

Um grande desígnio (CXV).



(tenho escrito menos sobre o que tenho vivido contigo. a razão aparente é simples: o vivido é intenso incessante exigente de cuidados inadiáveis. prefiro vivê-lo a deixá-lo escrito. já corres desempoeiradamente. já chamas o elevador. já divides o pão com a antónia. dizes que o pai é velho. pedes para ir ver o sino. na semana passada, houve uma noite em que tiveste dificuldade em adormecer. depois de vários arremedos de acção falhada, fomos à rua para o parque andar de baloiço. estavam dois graus, era uma e meia da manhã no centro da vila de manteigas. nunca tinha estado num parque em manteigas. nem em qualquer outro lado. andámos pelas ruas, tu de pantufas a bordejar o desnível dos meus ombros. falámos do estado da economia, fizemos planos para o dia seguinte: andar pouco de carro, andar de baloiço no parque junto ao rio, comer arroz, fazer um boneco de neve. depois de comparar pela quinta vez a iluminação pública erguida encosta acima a um presépio, perguntei-te se podíamos ir dormir. sim, agora sim, o tu não chora - disseste. colocaste dois dedos na boca. o teu rosto serenou, o meu serenou com ele. um rio corria à nossa frente. era o único ruído perceptível. pensei no que poderia fazer para reter aquele momento por duas décadas). 


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