Monday, July 24, 2017

Self-disclosure.

Gelados a sete euros na marina de vilamoura.



Uma vez, comi um gelado na marina de vilamoura.

Naquele tempo, ir à marina de vilamoura era, em si mesmo, um acontecimento, uma actividade que se programava. Havia lá barcos. Ouvia-se falar inglês. Tinha de se escolher a roupa. Chegava-se e depois levava-se o corpo a apontar sabores stracciatella.

Naquele tempo não havia fake news, startups, millennials, problemas com os dias loureiro, com os eucaliptos. Ou melhor, talvez houvesse, mas não se fazia disso notícia.

Praticava-se, como hoje ou no tempo de novecentos, uma preferência nacional:
a defesa intransigente, oligárquica, de uma vantagem adquirida.

Um incêndio era dito, como hoje, tratar-se de algo "inevitável".
As palavras têm o poder oblíquo de fazer acontecer coisas.
Há palavras que trazem dinheiro de longe.

Como não havia ainda likes, comer um gelado era exactamente isso.
Uma pessoa comia um gelado, e, nos dias seguintes, dizia-o:

"No outro dia, fui comer um gelado à marina de vilamoura.
Paguei sete euros por um cone e uma bola com sabor a bolacha maria".

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