Tuesday, August 30, 2016

Self-disclosure.

Um grande desígnio (XLII).



(há já alguns dias que uma nova actividade se vem intrometendo na tua agenda de afazeres quotidianos. deitar coisas. começaste por um menino de que gostas particularmente, cujo deitar implica desnudá-lo primeiro. temos tentado ajudar neste cerimonial. tens deitado cada vez mais meninos, alargando, entretanto, o encargo a outros seres inanimados. uma minnie, uma garrafa de vinho, o winnie-the-pooh, uvas de mesa, um queijo do rabaçal. não consigo ainda que me deites. se me deito no chão e peço que me adormeças, sentas-te em cima de mim e olhas em frente, como quem espera pelo autocarro, com enfado, em arneiro tecelão.

no noutro dia, dei por mim a tentar adormecer um queijo do rabaçal. ocorreu-me, no dia seguinte, que, se alguém me perguntasse o que tenho feito recentemente, teria alguma dificuldade em encontrar um enunciado compatível com a necessidade de manter salubre um mínimo de vida social. Entretanto, porém, atento à actualidade, penso ter identificado um equivalente de acção, que, sem dolo significativo, poderei empregar, caso tenha de tentar adormecer de novo um queijo de rabaçal, e me perguntem, dias depois, então-pá-tudo-bem-o-que-é-feito-de-ti. Se tal suceder, vou referir, com simplicidade, que tenho estado ausente, em trabalho político. Se o meu interlocutor solicitar maior detalhe, tratarei, sem receio, de falar do que tenho feito a queijos a horas matutinas, convicto de que o equivalente por mim empregue será inteiramente compreendido).

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