Wednesday, February 24, 2016

Palavras de Cotrim.

Sucesso.


O sucesso que se diz, é dito, confere uma aura, um verniz de independência, de superioridade aparente.

Ao sucesso atribui-se uma relação íntima com o poder, com o dinheiro - o poder e o dinheiro, que, como dizem os compêndios, libertam.

São especialmente salientes as cores daqueles cujo sucesso se glorifica. Toleram-se melhor os vícios, as falhas, as interminências de ortografia, com os agrados que o reconhecimento propicia.

Àqueles ungidos pelo verniz épico do sucesso, são reservados lugares de destaque - para almoçar, para pensar em voz alta, para estacionar o carro de serviço.

Os olhos, sempre ávidos de heróis, não interrogam as febres das novas glorificações céleres, que apresentam o fracasso como delito. Em sessenta milésimos de segundo, este é objectivado como um "resultado" (isto é, uma "realidade") em todos os motores de busca.

O sucesso, assim celebrado como evangelho, define uma condição ética para a excitação dos sentidos. Trata-se de uma norma de comportamento que não é solidária, que agride, propiciando relações socialmente sediadas na oposição, que apelam à desqualificação impenitente.

O sucesso a celebrar deveria ser aquele que se imagina. Faz pouco barulho, desassossega, não traz vícios.

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