Sunday, January 10, 2010

Palavras de Cotrim


Oração
.

Senhor,
trazei de novo
a nós
a esperança,
um Sancho Pança,
e mil dotes de liderança,
pois
no vagar da modernidade,
há alento e couro cabeludo
investido
na gestão de um abstracto miúdo
não sendo um requisito
saber soletrar
ou tocar guitarra,
para compensar o oxigénio
consumido,
na realização
de tão pouco
adquirido.

No meridiano da incerteza,
avistamos
uma barriga muito tesa
do que se diz
uma senhora de limpeza,
que dispõe,
como ontem,
pão e vinho
sobre a mesa.
Um procedimento em aberto
é o que ali vai,
um som único
a desenvolver-se
corpo
de força cava,
muito ou pouco,
consoante a
circunstância.

Para conforto do ego,
dizemos desculpa e obrigado,
expiando o pecado de quem dá
voz sonante à esperança,
uma fome que nos move
adiante de quimeras,
na compreensão fundamental
que nos faz
levantar todos os dias muito cedo,
torrar o pão,
ainda que a medo,
tocar piano,
mesmo que seja com um dedo,
pois ali
se encontram as questões eternas.

Senhor,
a esperança é instituição remota,
quando
tudo parece que foi já tentado,
casar filhas
na dinâmica das coisas,
e o abstracto é
um sempre distante
viaduto em desgraça,
porquanto o que se procura
é, enfim, alcançado,
prontamente deve ser retomado,
pois não se sabe
o que de concreto,
foi, de facto,
encontrado.

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