Uma mancheia de rebuçados.
Era ainda ontem quando fui ofertado de uma coima em forma de pergunta - conheces alguém, foi, recordo, o dito inquirido.
Caminho andado posto em uso, lembrei-me da economia que encontra base nas rendas essenciais que se conhecem, e, não querendo desequilibrar a ciclotimia das balanças de comércio, referi que sim, que conhecia,
que tal era um facto.
Sem surpresa, foi-me referido que conhecer alguém é bom, que é importante conhecer alguém para que as coisas aconteçam, e se acontecer que não se conhece ninguém, há que fazer para que nos conheçam, procurar alguém conhecedor, ou seja, alguém que conheça, ou melhor, alguém que tenha conhecimentos.
A posse, aqui, é melhor determinante do sucesso que o verbo, dúbio incentivo pedagógico do que é bom fermento da eficácia.
Sempre ouvi que era importante conhecer. Li, fiz listas, o tpc, sublinhei, decantei o fotocopiado com empenho, meu e de outros, frequentei a wikipedia, e antes a enciclopédia juvenil ilustrada, porque fiel acreditei que no conhecer nascituro se constitui a mais justa e fértil seara.
Ocorre-me, por vezes, quando sujeito a semelhante inquirição, que talvez me tenha enroscado em seara transversa, com o protagonismo agora concedido à conivência jovial com o sujeito executivo, à vertigem do número imediato que faz perder o senso da medida, à liturgia do poder dos lugares importantes, devia por certo investir noutros sistemas de rega, a unção com outra água benta, envolto em sorrisos serviçais e compatíveis variações anímicas.
A referência prosseguiu, no seu fervor utilitário. Um indivíduo-que-conhece é um género que sempre alcança, uma manga que se arregaça, verniz que não desgasta, consolo farto que proporciona uma grande família. Sim, por certo que sim, respondi por cortesia.
Lembrei-me, por instantes, de uma vez ter comprado uns quantos caramelos de penha que fiz por durar até à mesada seguinte, conhecimento particular de que pouco me serve agora, e tanto então valeu a pena.
Este breve interlúdio foi como dizer-me confesso de um gostar por rostos francos, o que aparentemente me ilibou da coima inicialmente apresentada.
A conversa findou, regressei, como oportunos dizemos, a casa.
No comments:
Post a Comment