Wednesday, October 05, 2011

Self-disclosure

Interrogação da contingência (III).


à rapariga trouxeram a infância
e o alvor dos dias jovens

precisamente os que morrem
na densa capaz memória
e a rapariga, de pé, perguntou
se seria sempre assim,
e foi morrendo
sujeita ao tempo ao silêncio ao tempo

a partir do primeiro buço
começaram todos a vê-la

e depois vieram o beijo a menarca
as montras todas iguais
de lojas todas iguais
de ruas todas iguais

e lá ia ela com enzimas
especialmente preparadas
arreganhando riso
nas faces
gavetas
violentadas

à noite
tinha receio de começar
a ter leite nas mamas

todas as coisas foram parecendo poucas
e com elas vieram tosses
um organizado desenvolto de escritas
dentre as quais
um outro pouco de dias
que desconhecia que terminariam
sem aviso

e a rapariga farta
nas buscas mais fogosas
persistiu em investimentos
de morada incerta
onde avultassem
as felizes contingências,
um esgar mais do que um sorriso,
ela e as outras
rubras altas
mulheres desamadas,
num confessionário
seu
delas
tão necessário

será por certo
um modo próprio
de praticar ideologia

deve ser ofício seu fazê-lo
aclarar o mundo com breves desculpas de domingo
- as mais breves, as que se dizem poder ser poesia -,
água de cú bem lavado,

uma curta área de embaraço
sujeita ao tempo a um silêncio
que não ocupará um oitavo de página
na secção de necrologia.

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