Elementos de cultura táctil. Procedimentos analíticos. Artefactos da vida mundana. A vida como arte de encontro. Da descoberta. Uma aprendizagem em redondilha maior. Um convite à partilha - com um grilo que tem fome de elefante.
Friday, October 28, 2011
It´s a outlier!
Hoje sou ser o meu primeiro-ministro.
No acordar daquele dia percebeu claro que iria morrer.
Apesar dos avisos de impossibilidade de concretização desse até então remoto acontecimento, persistiu na empresa, assoalhada até então pouco considerada, e inventariou os seus a sua relevância, arrumou o arquivo para que tudo ficasse em ordem, antes de se ir embora de vez. Pensou na gratidão devida e numas febres tidas em criança, e telefonou para o seu editor, o senhor aníbal do primeiro emprego, o pereira que nunca lhe falhou, a sua flor das mãos de fada. Impressionava-o que na morte aparecida, o que mais lhe ficava era o odor pueril a palmolive do seu cabelo, e ele que tanto havia deputado em odores de vária casta. Ao filho explicou a necessidade do bom uso da vírgula, os termos precisos do resgate do ppr, ao pai ainda rijo pediu desculpa por não ter estado à altura da elevada medida dos acontecimentos.
Havia coisas que sempre que lhe tinham escapado, uma a uma, incidentes inscritos no gelo - o que seria de facto um imposto, talvez uma manifestação de desagrado divino, para que serve uma mesinha de cabeceira, porque se pintam as mulheres, o que justifica a previsibilidade unidimensional dos homens, a inabilidade para o vetusto tálamo conjugal, o amor que é uma água, as pessoas que se abraçam e ficam de mão dada, enfim, não tinha conhecido a verdade que se enuncia no uso livre do espaço público, a realidade muita que há.
Fez por morrer às dezanove e dezassete, um coro ecoava ao fundo mais um preço certo, e assim, de gavetas já vazias, garantiria que era também pessoa. Queria fazer por morrer, mas como é que isso se fazia, fez por morrer pelo menos duas ou três vezes, até que concluiu que isso seria porventura insuficiente para o muito que o preocupava. Sentou-se, acendeu uma lâmpada, respirou. Anunciou, por fim, que no que restava daquele dia seria o seu próprio primeiro-ministro.
Tinha de fazer alguma coisa com a sua necessidade de expressão, e com um cargo assim proclamado veria a sua culpa convenientemente distribuída.
Subscribe to:
Post Comments (Atom)
No comments:
Post a Comment