Ficar a dever (a 14X011).
sem mácula ou engano,
e a inevitável naturalidade
das coisas que têm de acontecer
volta o verbo vivo depurado,
dito de passo em passo,
um pouco mais de cada vez
dando escassa voz
aos ainda vivos
em inventários
os visitadores
às vinte da noite
ditam o texto
e as legendas artificiosas
cândida certa tosquia,
o bom deus é agora muito frontal
os olhos dois plenos de agudos cotovelos
inscrevem o recuo das certezas de latifúndio
- estádios estradas rotundas fundamentais -
há uma miséria que nos aflige,
um desvio, impossível objecto contábil
uma récita raça em vias de espécie
que ninguém vê ninguém sente
nos sectores os dois oficiais
tudo se faz equivaler
no real novo vertebrado
num depurado agora imposto
somos feitos exclusivos sujeitos fiscais
jantamo-nos
a marquise persiste lisa
refém de um vistoso passado lívido
de cores tomadas efémeras de empréstimo
esgotado o inventário dos pertences,
vamos ensaiar também uma pose,
uma maneira de dizer,
perder também o sentido de decoro -
sim, hoje vou ter de ficar a dever.
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