Wednesday, March 31, 2010

Self-disclosure


Artwork: Erina Matsui (2010)



Os factos não sofrem decomposição
.

As pessoas,
sempre a propósito,
na sua térrea doçura
são
pequenas ficções,
periferias agradecidas
feitas de
amor árduo,
murmúrios,
vidas indiferentes,
faces escondidas
nas mãos,
analfabetas
de súbito
um delírio expulso
de onde faisca
um verde,
um sorriso que se abre
e sublinha a quietude,
das pessoas,
o infindo problema dos afectos,
uma pequenez aflita
que lhes retira o chão
num regresso abundante,
escrever perguntas,
ouvir,
prosseguir
os factos das pessoas,
como uma medicina
feita de gomos de lua,
contar a mesma história três vezes,
as vezes necessárias,
as pessoas enquanto pessoas,
não são clientes,
consumidores,
utentes,
as pessoas enquanto pessoas,
têm dívidas e têm dentes,
não são indivíduos,
cidadãos
indigentes,
são ficções,
as pessoas enquanto pessoas,
habitam
lugares cadentes,
distintos para cada pessoa,
que procedem
da deserção paterna,
uma engenharia da esperança
que se frequenta à distância,

as pessoas,
os seus factos,
as suas mentes.

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