O campeão (instantâneo).
Em tempo de semi-deuses e heróis instantâneos, é difícil encontrar quem afirme abertamente já ter levado porrada. A dificuldade não é, contudo, de hoje; já Álvaro de Campos, o engenheiro da sinestesia, referia no seu "Poema em Linha Recta", que, para seu grande espanto, "(...) todos os seus conhecidos tinham sido já campeões em tudo".
Observando, contudo, o épico quotidiano de um qualquer confessionário/purgatório da modernidade, um café-pastelaria-ou semelhante, mais não se regista que a apologia diária da auto-estima e da auto-comiseração, a sublimação de uma estética da fragilidade, da melancolia e da depressão. Entre um café e um retalho de pastelaria fina, vê-se bem que a vida é, no essencial, aquilo que nos cansa e mata, e, neste contexto, a porrada é o paliativo que nos dignifica, e que nos aproxima da eternidade e do endeusamento desejado.
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