Tuesday, June 05, 2007

Palavras de Cotrim

Identidade (ou sentido de si).

Durante o tempo de suas vidas, as pessoas são, no essencial, um caminho - a função e o produto de um caminho. Umas vezes, um caminho que é escolhido; as mais das vezes, um caminho atribuído. Durante a maior parte do tempo de suas vidas, as pessoas vivem anos sem morte, são o caminho que se afasta de si, porque só pretendem aquilo que não são: serem mais altos, rápidos e sagazes do que são; numa palavra, serem mais breves do que efectivamente são. Quando jovens, as pessoas pretendem ser tudo, de todas as maneiras; pretendem, em fulgor dionísiaco, ser horda e rebanho, desejando a vertigem, a viagem, o clamor. Visam a fusão com os outros e a completa dissolução no mundo. Quando em adultez - estando ainda por destilar o que é verdadeiramente encriptado por este vocábulo -, as pessoas são cronologia, são as manhãs e pretensa serenidade. De quando em vez, o indivíduo enquanto adulto experimenta ainda o apetite voraz das horas selvagens da juventude - o seu corpo persegue-o, então, por breves instantes, raptando o seu sentimento de si. Uma árvore instantânea. O indivíduo sente-se e reconhece-se ainda vivo, distraído que está do peso do fluir incessante da vida.

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