Monday, March 05, 2007

It´s a outlier!

"Escritor Alface":
É necessário ter saudades já!
Não obstante ser este o grito a empregar, todos os dias, sejam eles úteis ou sensivelmente menos fúteis, há que empregá-lo, neste momento, com maior veemência. João Alfacinha da Silva, Escritor Alface (como se transmutou, em página incerta de sua vida), abandonou, esta semana, a sua existência corpórea.
Escritor Alface deu vida a uma personagem contrastante, um exemplo quasi-perfeito de um "outlier". Definia-se como "o rapaz do trapézio voador", trajando camisas dois números acima do recomendável, e calças flácidas, propensas a um descair sistemático e automático. Frequentou Direito e Psicologia, onde conheceu diversos seminaristas (progressistas) que usavam sapatos muito grandes (segundo descrição do próprio).
Alface irrompeu no meio literário português em 1977 com Os Lusíadas (Assírio & Alvim), primeiro de uma trilogia que incluiu As Noites Brancas do Papa Negro (1982) e Beijinhos (1996), editados na Fenda. Co-assinados por Manuel Silva Ramos, estes livros, sempre escritos ao arrepio de qualquer lógica comercial, constituíram "uma espécie de meditação ficcional sobre Portugal (…) [escrita] ao nível de uma linha joyceana de trabalhar as palavras ao limite, quase na ordem da antileitura", segundo explicou Alface numa entrevista a Maria João Seixas.
Publicou também uma série de cinco livros juvenis, muito recomendáveis para a educação de jovens plebeus: "Um pai porreiro ganha muito dinheiro"; "Uma mãe porreira é prá vida inteira"; "Filhos assim dão cabo de mim"; "Avó, não pise o cocó"; "A prima fica por cima".
Outras referências e minudências poderiam ser mencionadas. Consideramos, contudo, que o mais importante é ler Escritor Alface, pois um escritor só morre, quando já ninguém o lê.

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