Sunday, September 22, 2019

Self-disclosure.


Dia de natação.




À temperatura do silêncio, nado fértil a quinze metros de distância. A água treme no esforço, para lá do sol das medalhas.

A pele tenta a velocidade, a redenção retida no corpo. Recordo um livro antigo, as suas vírgulas. Resolvo palavras na memória. Lembro um padre arquejante, o seu rosto cuidado, branco. Lembro um amigo, uma cadeira vazia, um fio de cabelo caído sobre o futuro. Penso depois em soluções para o mundo: sopa da pedra, saber desenhar um círculo, escolher melhores palavras.

Ao fundo do silêncio começam os olhos. Os olhos levantam os números a potências desconhecidas. Fora de todas as importâncias, de toda a instrução subjectiva. Os números acendem os homens, as suas razões, as sílabas.

Afio a manhã do lápis, ajeito a touca a todo o lés da província. Digo que sim: é dia de natação. Ao fundo, um grupo de mães fala com janelas, fazem viver a máquina, equilibram-se no seu silêncio, como se estivessem prestes a descobrir um filão de ouro.

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