Monday, May 13, 2019

Self-disclosure.





Um grande desígnio (CXL).




(Eduarda, quatro anos.


tenho andado a ler um livro do manuel silva ramos que fala da importância de ir renovando os homens, os pomares, usando borboletas. vaso de flor e vértebra, faz hoje quatro anos que te disse pela primeira vez com nome de gente. faz hoje quatro anos que me encontrei provavelmente por inteiro, com nome de gente. já pintas dentro do risco. já escolhes o cabelo que deve ficar atrás da orelha. já argumentas. já partilhas. já confidencias. tens amigos: isto é, pessoas que te acenam, que te dão a mão, que se aproximam. medes um metro e cinco. és tímida, valorizas a regra, gostas de puzzles porque perseveras. já nadas sem placa e danças de panela. faço em breve quarenta anos. acertando no nervo da distância, pontuo hoje alto na indústria da felicidade. digo-me hoje com poucos nomes, com poucas letras. é suficiente. já fiz muitas coisas, muitas sem saber e sem saber como depois as dizer. contigo veio, entretanto, a deflação de uns quantos abcessos íntimos. há dias, na escola, perguntaram-te a minha ocupação no dia-a-dia. a tua resposta, ínfima, intransitiva, ergueu-me por momentos ao céu: o meu pai corre muito e depois senta-se em casa a escrever).

No comments: