Vem de longe o vento que sopra hoje.
Quando em bom, hoje, como ontem,
é um proveito ouvir que um vento novo se ergue no horizonte,
ouvir as notícias que dele temos,
na sua hipérbole e destemor imperecível.
Vamos ouvindo hoje notícias do futuro, de um ganho novo por vir:
foi dado o tiro de meta.
Um arremesso de gente comparece alegre nos pórticos,
para assistir ao milagre constelado,
impotente de admiração e providência.
As gentes gostam de ouvir falar do futuro:
os ganhos da técnica, da indústria, vão permitir os ócios,
realizar o ideal do pão partido em pequeninos,
um prodígio de curas e de fregueses,
razão de alvoroço, de benefício, de alegria imbatível.
Estende-se depois o pires na rua.
As gentes usam na testa uma espécie de espanto:
tocaram o futuro, o futuro que é um vício, inédito na sua barba.
Sucede, porém, que a flor se retarda:
persiste o relento moral ao redor das palhas,
no estendedoiro, os lençóis continuam flácidos.
As gentes lembram o vento, a vida larga, que ouviram na frente dos certames.
O futuro (o ganho) desce afinal em voo mole e caprichoso:
chega tarde a sua argúcia ao regato municipal, às instalações portuárias.
Como o futuro lembra, o presente das coisas passa:
as suas virtudes podem recolher, sem aviso prévio,
a novos céus, nova terra, novos pórticos.
O futuro é hoje um vício, é um estilo de vida.
O futuro é bom para o amor e para os cabelos.
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