Friday, April 27, 2018

Palavras de Cotrim.

Axis mundi.



Os altos lugares, como as serras, os parlamentos e as assembleias, prestam-se ao endeusamento, à empáfia, à prática mitomaníaca, à construção mitológica.

Há quem tome os altos lugares por coisa santa.
São imensos, vastos, enigmáticos, apoteóticos, os altos lugares.
Tudo se cria neles. Neles a vida é mais permanente, mirra o que nasce sem a sua benção.


Há nos altos lugares algo de majestoso que inspira as mentes com pensamentos e paixões fragosas. Nos altos lugares, o grande côncavo dos céus adianta da terra o espírito, mais que outras partes. Paira sobre estes lugares uma sugestão de infinito, de excelência, como sucede com todas as coisas que se elevam além da compreensão tida por comum.

Nos altos lugares, a acção é redentora, porquanto se apresenta liberta de fins específicos. Nos altos lugares, a acção visa e vive, não de criações ou de realizações efectivas, mas sim da exibição de virtudes que se dizem irrepreensíveis, da consagração de um sentido de plenitude como inédito poder sacramental.

Os altos lugares permitem saber (ir sabendo) de impedimentos, de atalhos felicianos, de grandes conveniências de fundo, do dente do tempo que passa. Proporcionam a emoção própria das alturas, da vocação salvífica, da compridez inaugural.

Dali, dos altos lugares, os homens esperam amparo, preponderância, defesa certa. 
Ali, nos altos lugares, o espírito dos homens é a mão que se afadiga junto dos espelhos:

Eles estão ali, insistindo em si mesmos - decisivos, preciosos, primordiais.

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