Friday, January 26, 2018

It`s an outlier!

O investautor.



O afã do empreendimento e da nobreza do empreendedorismo tem conhecido, ao longo do tempo, múltiplas declinações. Um género particular de empreendedor distingue-se, por vezes, nos ermos escondidos das penínsulas: o investautor.

O investautor é um autor que investe.
O investautor investe porque é autor.
O investautor é um autor, porque essa condição lhe permite investir.
O investautor é um autor, neste sentido, de coisas que depois lhe asseguram um rendimento. De cantigas, por exemplo.

Enquanto autor de cantigas, o investautor tem o verbo treinado para deixar uma impressão de familiaridade. As suas cantigas suscitam, edulcorantes, o que mais convém: um ambiente de estímulo e de suspiro anónimo, sorrisos, contratos, contactos, anuência.

O investautor, aplanado de montantes, canta nas suas cantigas a penúria, a elevação da tristeza dada à solidão. Investe depois em hotéis, em restaurantes, em galas de beneficiência. A ele, as cantigas, as galas, interessam sobretudo por causa dos favores, dos afagos de velo que asseguram.

Ao investautor não faltam as oportunidades de comércio, se para tanto houver menu propício para cotejar simpatias. Ao investautor não faltam as palavras ossudas, os bons olhos que propinam serviços, duas a três vezes ao ano, nas festas do município. 

Ao investautor interessa, sobretudo, uma aparência de sentimento sério e comedido.
Ao investautor interessa, sobretudo, fazer valer e fazer durar a inércia do prestígio.
Ao investautor interessa, sobretudo, conhecer quem assina o formulário nos fundos da delegacia.

As cantigas do investautor são invariavelmente tristes, porque as cantigas tristes são respeitáveis, duram mais tempo, passam melhor nos intervalos das novelas. As cantigas são, afinal, um pretexto de feição respeitosa, bom para o investautor se meter em tudo o que lhe possa assegurar progresso. Isto é, dinheiro.

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