Tuesday, July 11, 2017

Self-disclosure.

Um grande desígnio (XCVIII).




(há hoje uma pessoa que gostas especialmente de ver.

perguntas amiúde por ela, quando ouves, em qualquer parte, uma porta a abrir, uma campainha. quando a vês, mostras o que tens, contas novidades, mostra as tuas feridas.

é isso: falo de uma amiga. a zezé.

digo-o assim, para um dia, no futuro, me ajudares a dizê-lo melhor: a zezé foi, talvez, a tua primeira amiga. a zezé é especial, porque não sou eu nem é a mãe. é uma pessoa especial com quem tens as tuas coisas. a zezé sabe tocar viola. usa uma bata branca. é alta. usa óculos. é diferente. 

fomos vê-la no outro dia. parecias, em parte, decepcionada. a zezé estava com outras pessoas. percebeste que a zezé, a tua amiga, além das tuas, das vossas coisas, tem também as suas coisas. 

no dia seguinte, quando acordaste, parecias trazer a mão direita a esfregar a tua pequena vasilha. não o percebi de imediato. pensei, denotativo, que seria algo cutâneo.
tinha ainda a imaginação pouco atenta, trôpega. perguntei-te se estavas aflita. disseste-me apenas, com intocado entusiasmo: zezé.

é isso: estavas, como a tua amiga, a tocar viola. tenho procurado perceber, desde então, porque me suscita isto uma pequena falha tectónica na cabeça.

pensei vê-lo há pouco, ao olhar os auscultadores usados de um estudante de medicina.
a cabeça ressente-se, por dentro, com a mudança. com o ganho. com a perda.
um ganho, para ti, de mundos, de possibilidades de decepção, de alegria.
uma perda, para mim, do que poderá haver de mim em ti, dividido agora (e doravante) por outros.

a divisão é importante, porque representa um limite à minha capacidade de controlar,
de poder evitar, por exemplo, que entristeças.

pensei, entretanto, no que vamos fazer na próxima vez que formos a pé à baixinha.
vamos à olímpio medina comprar-te uma viola).

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