O político-alabastro.
O político-alabastro define uma categoria profissional contemporânea, indicativa do indivíduo que se dedica à arte nobre-rara-difícil do entendimento, do equilíbrio de contrários.
Para este efeito, o político-alabastro, lanternim de cúpula, apresenta-se como um especialista-generalista. Na coisa no cargo público, na administração do desemprego, da água, da saúde, dos carris, do turismo, dos bombeiros, do património, dos museus, da educação.
O político-alabastro é, no essencial, um generalista especialista em ser especialista.
Em tudo o que facilite a sua permanência em esferas altas e distintas.
Como é sabido, o alabastro é um material fácil de polir, de talhar. Parece gesso, parece mármore, a sua porosidade facilita a douragem, o adorno, a pintura. O melhor alabastro é largamente utilizado como ornamento, especialmente na decoração eclesiástica e em corrimões de escadas, átrios e salões. Quando é cortado em lâminas muito finas, o alabastro é translúcido bastante para poder ser também usado em janelas.
Norteado pela procura de prosperidade, a estima dos poderes estabelecidos,
o político-alabastro, fácil de talhar, sabe cumprir os rituais da liturgia do poder,
o cerimonial próprio das instituições, a cenografia da língua, da inclinação do momento.
Resoluto na execução, o político-alabastro sorve a ciência tangente pelos bordos,
imagem da grandura natural dos homens de inteligência, matéria de grande ribalta.
Se alguém pergunta, o político-alabastro trabalha tanto como aqueles que trabalham mais.
Sujeito escaleno, dissimulado, engrandecido de nadezas, de fantasmagorias,
é tipicamente avistado em lugares de história a termo, em lugares de alçaperna.
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