Thursday, August 11, 2016

It`s an outlier!

Da vida na cidade.




A cidade e a a vida nos "grandes aglomerados" oferecem uma experiência de singularidade extremada (Simmel, 1999*).

A "cidade", como o "movimento" ou o "estrangeiro", constituem "formas sociais" que "dão o tom" às relações sociais modernas. A vida na cidade é intrinsecamente ambivalente (Simmel, 1999) - aliena e liberta, em simultâneo. Acelera o ritmo das existências, torna as relações mais anónimas, fugidias, contraditórias. Há uma escassez e uma brevidade nos contactos interpessoais que são estabelecidos. Há, em termos de experiência sensorial, um excesso de estímulação. O espaço limitado de movimento e a proximidade física dos indivíduos justificam a necessidade de criação de um distanciamento "mental". Deste modo, como forma de ajustamento à sobrestimulação, à saliência sincrética de estímulos, na cidade os indivíduos tendem a desenvolver uma atitude de reserva, de indiferença, de distanciamento.

Para Simmel (1999), na cidade, as relações, na sua forma e conteúdo, são influenciadas pela representação (subjectiva) da duração que lhes é atribuída. Na cidade, na ausência de laços históricos ou de dimensões singulares que possibilitem uma aproximação e uma duração significativa dos contactos interpessoais, o nivelamento de referências conduz a uma unificação despersonalizante, um efeito anestesiante que não permite "ter-em-comum" senão algumas qualidades gerais, com as quais o indivíduo se identifica de modo temporário, num abandono temporário de si.

Há uma dormência do corpo, e uma atracção concomitante pela "aventura", isto é, pela introdução de descontinuidades - uma hipótese de rejuvenescimento - nos usos habituais do corpo. Valoriza-se, deste modo, a excentricidade, a afirmação de distinção, de adorno da singularidade, facto que organiza uma cultura particular que articula as relações, espacial e culturalmente, sempre a partir de um certo parâmetro de distância, de uma tensão difusa, sendo, deste modo, remota a possibilidade de se estabelecer, na cidade, relações de proximidade efectiva.




* Simmel, G. (1999). Études sur les formes de la socialisation. Paris: PUF.


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