Constatei-o hoje, ao passar numa creche à hora do recreio.
Tem sido para mim muito importante a experiência da tua companhia -
uma companhia que não julga, que não é impositiva, impertinente, barulhenta.
A tua companhia que, em breve, será outra.
Não falas ainda, sorris, choras, apontas, estás.
Em breve, virão as palavras, a interacção, a expectativa, a interpretação.
Temos treinado o agachamento, o salto para cima do degrau.
Glorifica-se hoje como incontornável o "cume", a espectacularidade da "grande estrutura", aquele que deu um dia um grande salto, refugiando-se, em cannes, de seguida.
O "sopé" estruturante, feito de pormenores ínfimos, saltos pequenos mas regulares, determinantes mas irrisórios, é tratado como anódino, insignificante, remetido para a obscuridade. Saltar pequeno vende pouco, é pouco espectacular.
O foco no "cume" grandiloquente produz, no quotidiano, uma miríade de coisas, de signos apresentados, valorizados como decisivos, indispensáveis, "quasi-utopias".
O excesso de signos, de significantes, é acompanhado, em termos correlativos, pelo défice de significado, de significados, circunstância que cria, que criou distâncias, a neurose, desencontros, distopias - como tantos, tão bem elucidam (Eco, Mauss, Levi-Strauss, Freud, Lacan, Geertz, Turner, Derrida).
Tenho registado o que me ocorre, em vôo rasante, dos teus primeiros saltos para o degrau, pequenos, ínfimos - da tua primeira companhia.
Os teus saltos minúsculos têm sido para mim decisivos, um incentivo para estar mais atento ao que mais deveria importar - o ínfimo conseguimento plebeu que todos os dias se passa.
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