Friday, July 15, 2016

Palavras de Cotrim.

Da cultura "Just feel it".

Nas lógicas que coca-colam hoje o mundo vivido, o excesso e o valor das imagens existentes sobressaem como traços distintivos. Espaços e objectos irrequietos, múltiplos, apelativos, extasiam sincréticos os sentidos. Trata-se de uma lenta recomposição das estruturas de dominação social, de uma inflexão nas ficções que regulam os interesses e o comportamento. Valoriza-se a experiência única, exclusiva, a "sensação", o contacto face-to-face, como signos de distinção de uma particularidade.

Daí a importância do rótulo, da embalagem, da superfície visual, do uso, da usabilidade - estímulos ardilosamente programados para a exaltação dos sentidos.

O repertório das aspirações últimas é-nos, afinal, interior - a auto-realização, a intimidade, o contacto, a interacção. Trata-se, em certa medida, de uma revisitação do sensacionismo proposto por Pessoa, uma "reengenharia de sensações" que reduz o mundo e a cultura do "outro" a uma sensação do "eu".

Tudo o que se passa - aqui e agora - passa-se em mim.
Just feel it.

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