Wednesday, July 13, 2016

Palavras de Cotrim.

Das "capelinhas".



"Funcionários da verdade" - assim eram conhecidos os funcionários que integravam a máquina burocrática da igreja medieval. João XXI, papa de Avignon (1316-1334), contava com cerca de quinze mil destes funcionários, copistas, soldados, clérigos de todos os níveis. Era este intransigente grupo de "funcionários da verdade" que assegurava o consenso social, a adesão e o cumprimento de rituais de devoção, o enquadramento dos "fiéis" em áreas restritas.

A posse feudalística de domínios de saber assegurava a esotereidade de um conhecimento "especialista", assumindo estes domínios a feição de "capelas" ou de baronias que estabeleciam fronteiras entre grupos, e regulavam a circulação dos saberes e dos poderes existentes.

Importava assegurar a esotereidade, a restrição do acesso a conhecimentos ilustres, condição de geração de "pequenas sociedades emproadas" (Duby*, 1992), pela acção dos "funcionários da verdade" que asseguravam, em círculos restritos (as "capelas"), a monofonia autoritária, adestrando a inteligência dos "fiéis" nos sentidos considerados admissíveis.

Os tempos mudaram - há que acreditar. Persistem, porém, indícios, nos modos de acesso e de manutenção do acesso a grupos, a associações, a organizações, a empresas, de recriação do "sagrado", da "baronia", na vida de todos os dias.



* Duby, G. (1992). A história continua. Porto: Asa.

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