Wednesday, June 15, 2016

Self-disclosure.

Um grande desígnio (XVI).



(almoçámos há dias com umas meninas que comeram pouco, preferindo adolescer repetidamente ao telemóvel. no final desse dia, fomos, de novo, procurar assento em creches com árvores e boa terra, creches que não pratiquem a preferência pelos escolhidos da corte, as famílias patrimoniais, dotadas de privilégios transmissíveis. uma tarefa difícil. à noite, arrumei duas malas, tamanho-simpósio, num armário altaneiro, exíguo. quando, por fim, o fiz, reparei que me observavas, talvez há longo tempo, com requinte cronista, embevecido. naquele momento, senti-me tocado por uma espécie de benção: ter-te ali, naquele momento, tão atenta, tão presente, a valorizar um minúsculo conseguimento quotidiano. este é, acredito, um acontecimento raríssimo, em tempo de vida. saber-se o destino de uma atenção dirigida, ver-se reconhecido como dotado de habilidades específicas. arrumar uma mala grande numa prateleira de cima).

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