Friday, May 06, 2016

Palavras de Cotrim.

Melhoria contínua.



A "melhoria contínua", difundida no universo empresarial, desde os idos da década de 1980, enquanto norma preferencial de comportamento, define uma configuração ética, um "espírito" que incita o trabalhador a manter, em contínuo, uma condição de envolvimento desperto.

Incutindo um desconforto específico, um sentido de dever difuso, encantatório, a "melhoria" que assim é sugerida como preceito no plano do devir, projecta-se no tempo como necessidade perene, um requisito duradouro, irredutível.

Da difusão oportuna de um espírito de "melhoria contínua", como sucede com outros preceitos de administração "participativa", que visam a qualidade "enxuta" ("lean"), "total", decorre um dispositivo particularmente engenhoso de (re)educação das motivações individuais, ao confrontar os indivíduos com uma "nova" realidade, ambígua, difusa, vaporosa: a necessidade de ter de lidar, no quotidiano, com tarefas que se definem, por natureza e por princípio, como sendo e estando (sempre) inacabadas, abertas, incompletas.

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