Tuesday, May 03, 2016

It`s an outlier!

Do amor.



Para Roussel* (1988), o amor tende a redundar, de modo aparentemente inevitável, em desapontamento, desencontros, na necessidade de realizar o luto pela erosão de uns quantos primeiros fôlegos de encantamento desmedido.

O amor origina, num primeiro estado nascente, uma divinização dos indivíduos, uma idealização do outro, que é investido da capacidade de satisfazer fantasias de gratificação ilimitada. O amor nascente instala os indivíduos num "mundo novo", num confronto sublimado com a realidade - trata-se de uma condição imaginária, transitória, que só pode originar, para Roussel, frustração, conflito íntimo, nostalgia.

O amor emerge para o indivíduo, neste sentido, como algo de novo, de absolutamente diferente, uma forma de espanto (no sentido primitivo de "relâmpago"), uma possibilidade de subversão do ordenamento íntimo existente, hipótese inicial de colusão, na relação com as referências instituídas.  

A colusão define, em termos fenomenológicos (Laing, 1961), uma das formas típicas de experiência da relação com o outro.

Na colusão, a relação é estabelecida "no" e "com" o outro. Considerando a sua natureza fusional, à colusão podem suceder outros modos de relação com o outro, mais equívocos, que expressam, de algum modo, possibilidades de desencontro: a "ilusão" (a relação é estabelecida "no", mas "sem" o outro); a "desilusão" (a relação é estabelecida "com", mas "sem" o outro); e a "evasão" (a relação é estabelecida "fora" do outro).

Face à ambiguidade que lhe é intrínseca, adjacente, Rilke evocou a experiência amorosa como um dos mais temíveis, árduos, difíceis empreendimentos humanos.

Numa perspectiva fenomenológica, que valoriza o amor enquanto experiência individual, o vivido amoroso define, como Hegel sugeriu nos idos do século XVIII, uma oportunidade, singular e escorregadia, de relação e de conhecimento para os indivíduos, que subitamente se poderão descobrir dotados de profundidades íntimas.

Do amor como forma de conhecimento, como definido por Hegel: um conhecer (de mim), que eu (re)conheço no outro.



* Roussel, L. (1988). La famille incertaine. Paris: Odile Jacob.
* Laing, R.D. (1961). The self and others. London: Tavistock Publication.

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