Sunday, December 13, 2015

Self-disclosure.

Insignificância.



[ - A orquídea casou. 
- A empresa dele veio no expresso, tem muitos likes ao fim de semana.
- Ele já é chefe em luanda, comprou uma carrinha.
- Ela tem os filhos no colégio, sempre muito arrumados, limpos, têm aulas de natação.
- A minha filha já anda.
- Saiste da empresa, então e agora? ]



Num tempo horizontal, plano, poroso, anunciado que foi o fim da história, a luta incessante pela posse, a autoria, tudo é dessacralizado, tudo tende a ser igual a tudo, não há, por fim, passado, necessidade de comedimento, de memória.

Neste tempo, é, sem surpresa, difícil saber com clareza o que nos deve alegrar - um carro, um pai, um filho, ter um amigo, uma ideia, ter um emprego e um armário de três portas? 

Removidos os brilhos dos écrans, a glorificação da juventude célere, sempre-esplêndida nas suas tintas digitais, ficamos a sós com um medo, investido, que foi, inteiro, o ânimo, na longa escadaria da realização, da vitória. 


Trata-se do medo ruidoso da invisibilidade, da insignificância, o medo de não fazer o suficiente, de ser ultrapassado, de ter pouco, de modo pouco exuberante, pouco espectacular.

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