Wednesday, September 02, 2015

Palavras de Cotrim.

Progresso.


No século dezoito, havia em Portugal cinquenta mil galegos que levavam água a casa das pessoas, cartas de amor aos namorados, pianos aos terceiros e quartos andares dos senhores da capital.

No início do século vinte, circulavam em Portugal cento e quarenta e três mil carroças nas estradas, registavam-se mil divórcios por ano, os homens viviam em média trinta e seis anos, as diarreias eram a principal causa de morte nos registos, as avós guardavam debaixo dos lavatórios garrafões de água de fátima benzida, havia tempo para ferver o leite, e isso era natural.

Em meados do século vinte, em mil novecentos e cinquenta e sete, o instituto nacional de estatística comprou vinte bicicletas motorizadas com o intuito de acelerar o ritmo dos inquéritos industriais. Numa noite do verão de mil novecentos e cinquenta e nove, a direcção do casino de Afife reuniu de urgência, para autorizar os homens a abrir o casaco no salão.

No século vinte e um, em dois mil e quinze, há em Portugal doze mil caixas multibanco, um dias loureiro, alcatrão. Dizem, é dito nas legendas, que há progresso visível nas marquises, nas despensas, que é melhor assim.

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