Artwork: Ulmeirense, 1990 (autor não disponível)
Maurino.
Havia jogo naquele dia.
Ele ia, pela primeira vez, à baliza.
Levou o melhor fato de treino,
cinza claro, de perna comprida.
Nesse dia, Ele faltou pela primeira vez às aulas,
antecipando o balneário
um futuro risonho em advocacia.
O jogo começou de súbito,
a testa dele reluzia.
Capaz, tinha recusado luvas,
gritava como os guarda-redes
gritam nos écrans de televisão.
À meia-hora, o maurino
ameaçou fiado o drible, o chuto,
no corredor central da avenida,
e Ele lá foi,
com os dentes e a catequese em dia,
um futuro na boca
que fechava e depois abria.
Hoje,
Ele janta couve-flor,
faz o control, alt, del,
fala do tratado de tordesilhas.
Quando chove,
ocorrem-lhe os
chutos do maurino,
acontecimentos solenes,
importantes,
discutidos nas cantinas.
No comments:
Post a Comment