Thursday, November 06, 2014

Self-disclosure

Fading.


Deito-me.

Todos os dias
olho o tecto branco,
rezo um acto de contrição,
arrisco um pé de fora
nas mantas.

Fora de todo e qualquer caminho,
tenho apetites de arroz e avenças.

A graça de uma surpresa vai-me comovendo menos.

Já vi muitas camisas, formulários,
a exaustão da paciência,
escolhi adendas, esperei muitas vezes
a minha vez, à porta.

Penso nos prédios que se repetem,
em steinbeck, que tanto vindimou,
pergunto se em delmenhorst
estará tudo também na mesma.

É-me hoje difícil fazer contas
com as cuecas apertadas,
interpretar certezas, cândidas,
deitadas em panejamentos de seda.

Aprendi, entretanto, a importância
de ir apanhar batatas,
cultivar a aspereza da terra,
sacudir da lapela as caliças.

Deitado, enumero os problemas do dia seguinte,
um receio, talvez, de acordar sem companhia.

O tecto branco fita-me.
Procuro nele, uma vez mais, abonações para umas quantas dúvidas.

Apago a luz.
Penso em guarda-sóis às riscas.

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