Thursday, December 01, 2011

Self-disclosure

Artwork: I walk along the dusty road (by Cãoceito Atelier, 2011)


32.


uma criança nasce. não sabe qual é o seu caminho.
tem sensivelmente a idade com que nasceu.

os homens dão-lhe a mão para a ajudar a atravessar as ruas.
aprende a escrever o seu nome, depois o degelo, a luz de uma noite de verão.
tem uma estatura dita normal, um diploma que confere o primeiro apetecimento, mau hálito às três da tarde.
os anos passam, intrépidos infecundos.
os braços caídos assinalam o desânimo.
percebe que o mundo avança, há novos nomes dados às coisas, encolhem o que lhe vão dizendo os seus sonhos.

diz em voz alta que haverá lugar para contar os dias.
espera, avó, que lhe telefonem. não quer incomodar.
dela dizem-se destinos, estados vindos iguais a muitos outros, densa tessitura, que vem sempre com osso.

uma criança vai mingando à medida que este enredo se adensa, até se transformar num minúsculo inequívoco ponto final



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