Balzac (I).
Os universos a que se dedicava não faziam adivinhar que vivia rodeada de remorsos e víveres perecíveis. Ela era uma funcionária especialista, competente na identificação de problemas. Todos os dias, comprava pão e bolos, e empregava, sem gosto, verbos sem género, sem história, que despejava no espaço reservado para o uso das palavras, pois a comunicação assim tinha de ser. Aparentemente, as sandálias provocavam-lhe momentos hilários. Ela não era o que fazia. Também ria. Sempre que o fazia, eram as suas sandálias que trazia. Identificava problemas com reconhecida agilidade e não havia formulário que não lhe desse razão. Nunca percebi porque se ria ela, mas esse é por certo um débito meu, que já ri com maior fluência. Tinha muitos cartões, madeixas e influências, parte da razão da sua existência, e ao que era dado ver, hesitava no uso de estradas novas, por não lhes conhecer o destino. Assim era também com os homens e as mulheres, pois conservava diferentes parafilias, desde os tempos da menarca, repetindo hábitos, rituais e pensões, em busca de ânimo e préstimo relativamente saliente, simples de nomear e identificar. Essa era a sua especialidade. Identificar. Sobre a alteridade, sobravam os diagnósticos, concretos, lacónicos, desprovidos de rotundas protocolares e o olhar sintético de um jornalista. O mobiliário não tinha para ela segredos. Acumulava milhas aéreas, saindo ou não do seu imaginário. Sentia-se, contudo, só, um problema que teimava em não identificar.
Os universos a que se dedicava não faziam adivinhar que vivia rodeada de remorsos e víveres perecíveis. Ela era uma funcionária especialista, competente na identificação de problemas. Todos os dias, comprava pão e bolos, e empregava, sem gosto, verbos sem género, sem história, que despejava no espaço reservado para o uso das palavras, pois a comunicação assim tinha de ser. Aparentemente, as sandálias provocavam-lhe momentos hilários. Ela não era o que fazia. Também ria. Sempre que o fazia, eram as suas sandálias que trazia. Identificava problemas com reconhecida agilidade e não havia formulário que não lhe desse razão. Nunca percebi porque se ria ela, mas esse é por certo um débito meu, que já ri com maior fluência. Tinha muitos cartões, madeixas e influências, parte da razão da sua existência, e ao que era dado ver, hesitava no uso de estradas novas, por não lhes conhecer o destino. Assim era também com os homens e as mulheres, pois conservava diferentes parafilias, desde os tempos da menarca, repetindo hábitos, rituais e pensões, em busca de ânimo e préstimo relativamente saliente, simples de nomear e identificar. Essa era a sua especialidade. Identificar. Sobre a alteridade, sobravam os diagnósticos, concretos, lacónicos, desprovidos de rotundas protocolares e o olhar sintético de um jornalista. O mobiliário não tinha para ela segredos. Acumulava milhas aéreas, saindo ou não do seu imaginário. Sentia-se, contudo, só, um problema que teimava em não identificar.
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