Sunday, August 16, 2009

Self-disclosure

O princípio de Elvira.

Alvíssimo,
aquele parapeito oferece um sentimento de pertença que
tudo resolvia, porque tudo conhecia.

Elvira, que desde cedo dominava os deveres do recato no uso do espaço público,
havia alugado aquele parapeito para os dias caros de Agosto. Apenas o parapeito,
da sala maior de uma casa humilde e bafienta, mas restaurada e bem localizada.
No final desses dias, insinuava-se no parapeito a ver quem passava.
Esperava que assim a vissem, divinamente enquadrada,
entre luz indirecta e aquela cal imaculada.

Fumava, perfumada, e acenava a quem passava.
Para os outros, analistas que procuravam a todo o custo agarrar o Verão
num trânsito luxuriante de alcatra e malha cardada, Elvira era meio corpo maquilhado, que da
cintura para cima, acenava.

Desconheciam, contudo, o princípio de Elvira:
A vida faz-se de presenças, do testemunho dos
pequenos acontecimentos dos dias comuns;
para Elvira, viver os dias caros de Agosto era ser
ela própria um desses quase invisíveis acontecimentos.
Naquele altar remoto e improvisado.

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