(Vonnegut, Kurt, Um Homem Sem Pátria, Lisboa. Tinta-da-China, 2006)
um poema. um amigo.
senhor António, venha-nos pastorear.
livre-nos do tédio, do assédio, deste estranho pavonear.
hoje vi
senhoras altas que contavam histórias
palavrosas, estreitas, mas muito finas,
com metáforas redundantes,
quase-tolas, umas rôlas-meretrizes,
papo-secos de mal-estar.
senhor António, livre-nos do tédio, do assédio,
deste estranho pavonear.
hoje vi
papagaios sem cabeça.
enfureci
e emudeci
argonautas de pastelaria.
com muitas
bocas feitas de emprestada relevância.
senhor António,
hoje vi-o a si
Ia seco. tísico.
entoando histórias
quase-tolas,
completos papo-secos de mal-estar.
quase-tolas,
completos papo-secos de mal-estar.
senhor António,
doravante, não mais o envocarei.
Nada sucedeu a este estranho pavonear.
Falarei, antes, com o senhor vereador.
Do senhor vereador sei o que posso esperar.
Para o Ricardo Nunes "Clarim",
com regojizo pela reconquista de verticalidade.
No comments:
Post a Comment