Mihaly Csikzentmihalyi sublinha a importância de cada pessoa saber encontrar o seu apelo ("calling") interno, que o ponha em sintonia consigo próprio e o faça fluir de modo autónomo e criativo. Trata-se, noutros termos, da necessidade de confrontar lugares e localizações de classe pré-estabelecidas, interrogando modelos, padrões e estilos de vida que são dados, de modo anómico, pela história, pela tradição, pelo brando fluir natural dos dias - a assim denominada vidinha, por exemplo. Como defende Martin Seligman, o importante é passar-se de tentativas de se ter uma vida "boa", para um esforço (hermenêutico, por certo) de construção de uma vida "com sentido". A ditadura tem agora outros protagonistas, portanto.
A este propósito, Luís Fernando Veríssimo apresenta-nos, na sua série "Poesia numa hora destas?!", esparadrapos de eficácia diversa, para a cicatrização de padecimentos da alma. A consumir de modo desregrado, toma diária, várias vezes ao longo da vida:
"Essa sensação de segundo turno,
de desânimo generalizado,
e que de alguma maneira
fizeram você de bobo?
Não esquenta: Edu Lobo.
Contra a enxaqueca,
leia Rubem Fonseca.
Contra coriza e desdita,
ouça a Maria Rita.
Contra aflição e lumbago,
leia o Saramago.
Ninguém te ama, ninguém te quer?
Ouça o Charlie Parker.
Tudo é torto, tudo é tosco?
Ainda bem que tem o João Bosco.
Contra tudo o que amola,
use Paulinho da Viola.
Contra medo do Opus Dei,
use Billi Holiday
Contra tudo o que é dark,
ouça e leia Chico Buarque".
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