Monday, August 28, 2006

Self-disclosure

Do Brasil, samba de gafieira: a elegia da ausência do problema.

Perder um braço. Ou um amante.
Um atraso do autocarro.
Putas na avenida.
Mijar na esquina.
Pelo que dizem - "não tem problema".

Samba no pé. De gafieira.
De fuga, refúgio e evasão.
"Mexe essa cintura, nêgrinha,
e se lembra - não tem problema".

Ao longe (na linha do horizonte),
Alinham-se - involuntariamente - três caixotes de betão.
Lá dentro, fausto e pálidas toalhas de algodão.
Cá fora, um encardido moleque pede no chão.
Não sei se haverá (um) problema;
Numa singular equação de subsistência,
Um "jogo de cintura" entre o pão, a fome e a privação.

O carro descai na duna.
O autocarro fumega na via.
Esquecidas prioridades rodoviárias.
Um jumento com adornos - imponderadamente localizados.
"Marketing" insolente e incontinente:
Rodízio de peixe, de odores beatíficos, de desejos carnais.

Miscigenação: da vivência de uma outra latitude brotam prováveis diferenças.


Penso que há verde lá fora;
e que o caranguejo, incontidamente, se reproduz.
A água (aqui) humedece.
Humedece, não: Molha e aquece.
Penso que há verde lá fora.
Verde e quente; e pobre e diferente.
Mestiçagem. Desprendimento. Cândida e quasi-anoréctica leveza de costume.
Gostaria, talvez, de a ter comigo sempre.
Como uma companhia, um bicho manso de estimação.
Em permanência - no trato, carinho e mijo por todo o chão.

Pensando melhor, talvez não.
Eles
sambam melhor do que eu,
riem mais do que eu, colocando os pés no alcatrão.
Eles vivem todos os dias.
Esta gente de pés livres e posse inexistente.
Gente seca, viva e resplandecente.

2 comments:

JN said...

Com interpretação esplêndida da Senhora Dona "Tua Mamãe".
No fundo, é sempre com prazer e orgulho que te leio.

Anonymous said...

Chegada de férias mas demasiado cansada,foi para mim um oásis de prazer retornar a este local de sentimentos,tão sentidos,tão vividos...rm