Saturday, July 22, 2006

It`s a outlier!

Ricardo Araújo Pereira é guionista, e cultor de escrita miscigenada.

Analisa o útil e o fútil; o urbano e o paroquial; o mundano e o erudito; o pícaro, o opaco e o banal.

É, neste sentido, um “boundary crosser”. Sem altivez de pretenso intelectual.

Em textos recentes confirma a largura da sua análise social, efectuando, primeiro, um reparo crítico ao meneio de nádega da cançonetista Ana Malhoa, para, de seguida, comentar a `verve` do analista político José Pacheco Pereira.

Para Ricardo Araújo Pereira, existem, neste preciso momento, poucas coisas mais urgentes do que visitar o sítio oficial de Ana Malhoa:

Há várias representações de nádegas na história da arte, desde a esteatopigia da Vénus paleolítica até às Três Graças, de Rubens. Porém, nenhum artista teve a ousadia de representar o rabo como Ana Malhoa.
Refiro-me, especialmente, à fotografia em que, de fato-de-banho e saltos altos, a cantora exibe o rabo agarrada a duas cadeiras, enquanto dirige ao espectador um olhar desconfiado por cima do ombro.
Uma observação cuidada do rabo (e eu fi-la) revela uma faixa branca, não crestada pelo Sol, na base das nádegas. Essa faixa láctea é todo um manifesto. Como se, por intermédio do rabo, Malhoa nos dissesse: `Possuo umas nádegas tão fartas que até o Sol tem dificuldade em tisná-las todas`.
Quantas mensagens há, por essa Internet, mais interessantes do que esta?


Em texto seguinte, Ricardo Araújo Pereira assimila a figura de José Pacheco Pereira, reputado e reconhecível analista político nacional, aos semideuses que Álvaro de Campos descreve no seu “Poema em Linha Recta”:

“[José Pacheco Pereira] Nunca levou porrada, nunca foi ridículo, nunca fez vergonhas financeiras.
O Pacheco Pereira não se espanta, não se aleija, não tropeça, não duvida, não hesita, não ri.
O Pacheco Pereira não faz um gesto que não o enobreça, não tem um prazer que não o edifique, não cede a um vício que não seja, vendo bem, uma virtude.
O Pacheco Pereira nunca escreve com as mãos sujas.
O Pacheco Pereira é um homem carregado de sentido.
O Pacheco Pereira cheira magnificamente da boca.
O Pacheco Pereira nu é belíssimo (...).
De manhã, à hora a que a generalidade dos homens está a fazer a barba, o Pacheco Pereira está a pendurar poemas no blogue.
E pendura-os com a mesma burocracia nos gestos com que os outros homens fazem a barba.
Os homens não fazem comentários à barba e o Pacheco Pereira também não comenta os poemas.
Os homens não se emocionam com a cara escanhoada e o Pacheco Pereira também não se emociona com os versos.
Deus livre o Pacheco Pereira de ser tomado por uma das emoções humanas.
O Pacheco Pereira exibe poemas como aqueles senhores, na rua, exibem os genitais.
Abre a gabardina e mostra um soneto.

Baixa as calças e revela uma ode”.

A escrita de Ricardo Araújo Pereira resgata sorrisos honestos em vários tipos de personagem social. O neo-burguês. O proletário. O Vasco Pulido Valente (que constitui um conjunto singular). O herói de província. O ígnaro empresário industrial.

Ricardo Araújo Pereira é, assim, um `outlier`.

(Nota: Os textos aqui parcialmente apresentados, encontram-se em versão integral no blogue do colectivo “Gato Fedorento”).

1 comment:

Fritz the Fart said...

Opino:O Pacheco é o novo Júlio Dantas!