(no dia seguinte ao teu nascimento, dormia já a Eduarda de bandolete, pareceu-me apropriado ir correr até ao alto do bom jesus. para ver o que de lá se via. eram dez da noite. estavam doze graus. seriam dez quilómetros. uma aflição de névoa.
no início, levava - já o sabia - o corpo o miolo o juízo, moídos. quando começou o pináculo da subida, passaram por mim oito ciclistas, que disseram para eu ir, para eu ir, que aquilo não era nada.
eu fui (eu e a dúvida). comecei a sentir, pouco tempo depois, o sangue solto, domando ténue a língua do pensamento. o corpo o miolo o juízo, moídos, afinal não eram nada.
comecei a sentir, depois, um conforto distendido, uma vontade de dar boleias, apertos de mão, abraços.
pensei, por momentos, no teu futuro. o escuro circundante parecia assinalar um segredo, uma distância - reverente, episcopal.
o caminho que mais importa fica quase sempre longe. no caminho, sobra, quase sempre, um resto, a mesquinhez do (pouco) que é dito como possível. o corpo o miolo o juízo, moídos, afinal, não eram mesmo nada.
na escadaria final, comecei a ver coisas. coisas que não sabia.
a presença activa, erradia, do espírito. o favor do silêncio inoperante.
uma senhora roliça, um senhor careca, a dar beijos em francês, atrás de uma capelinha).
No comments:
Post a Comment