Das relações à distância.
As pessoas falam hoje com intensidade para écrans que trazem no bolso do casaco.
Retomando David Foster Wallace (1996): há treino específico para quem quiser parecer autêntico.
A disponibilidade imediata, a gratificação instantânea, a escala "global", aparentemente inesgotável, de "totalidades virtuais", criam uma ilusão de intimidade e de proximidade, um simulacro de pertença a uma comunidade, a uma rede firmemente entretecida que vence, aparentemente, o incómodo da distância (Elliott & Urry, 2010).
Para Thompson* (1995), as relações sociais são, crescentemente, experiências vividas através de múltiplas mediações. Protagonizadas pela distância e pela tecnologia, em particular. Elliott* (2015) refere, a este propósito, que a experiência da intimidade assim vivida constitui uma ilusão, resultante de interacções "para-sociais", na medida em
que a interacção dissociada de um encontro, de co-presença física, gera, tipicamente, uma idealização do "outro", a identificação projectiva ancorada em falsas impressões de
reciprocidade.
O écran, a rede, são exemplos de espaços de substituição, de "compressão" (Harvey, 1989) e deslocamento qualitativo da distância, espaços que possibilitam o exercício da
intimidade, de uma "conjugalidade limitada" (Singly, 2007).
As pessoas trazem depois o amor cansado, no balcão da ryanair, no alfa pendular, na goma dos lençóis, nas fotografias.
*
Elliott, A., & Urry, J. (2010). Mobile lives. London: Routledge.
Elliott, A. (2015). Identity troubles. London: Routledge.
Harvey, D. (1989). The condition of post-modernity: An enquiry into the origins of cultural change. Oxford: Blackwell.
Singly, F. (2007). Sociologia da família contemporânea. Rio de Janeiro: Editora FGV.
Thompson, J. (1995). The media and modernity: A social theory of the media. Cambridge: Polity Press.
Wallace, D. F. (1996). Infinite jest. Boston: Back Bay Books.
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