Caeiro (no time for dreaming).
(I)
Ia eu
melancólico caeiro
descendo a rua construtiva
quando principiei a olhar
o viço da cal matutina.
Escassa de acontecimentos,
a rua acolhia solúvel,
nádegas em calças, lamentos, novelas -
é uma ginástica,
tentar a sorte, pôr o totobola
antes que chegue o meio-dia.
(II)
Sabia há muito de casas felizes
onde os netos, consultores,
futuros directores
desembargadores infinitos,
concorreram à função pública,
cabeças boas para o cultivo,
dizem em manchete os jornais,
o vazio esmaecido dos campos,
aliás,
em manifesto desuso agrícola.
(III)
Mil novecentos e cinquenta e sete,
no vidro,
o último relatório e contas
das antigas loja singer.
Onde põe a pitinha o ovo,
útil pensei, então,
no regresso certo a casa,
interrogava o viço da cal na cabeça -
mais valia perceber de estantes,
de taxas de juro,
saber cuidar de nódoas com benzina.
No comments:
Post a Comment