Saturday, March 22, 2014

Self-disclosure

Caeiro (no time for dreaming).


(I)
Ia eu
melancólico caeiro
descendo a rua construtiva

quando principiei a olhar
o viço da cal matutina.

Escassa de acontecimentos,
a rua acolhia solúvel,
nádegas em calças, lamentos, novelas -
é uma ginástica,
tentar a sorte, pôr o totobola
antes que chegue o meio-dia.


(II)
Sabia há muito de casas felizes
onde os netos, consultores,
futuros directores
desembargadores infinitos,
concorreram à função pública,

cabeças boas para o cultivo,
dizem em manchete os jornais,
o vazio esmaecido dos campos,
aliás,
em manifesto desuso agrícola.


(III)

Mil novecentos e cinquenta e sete,
no vidro,
o último relatório e contas
das antigas loja singer.

Onde põe a pitinha o ovo,

útil pensei, então,
no regresso certo a casa,

interrogava o viço da cal na cabeça -


mais valia perceber de estantes,
de taxas de juro,
saber cuidar de nódoas com benzina.

No comments: